segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Auto-Retrato.

Uma menina de papel com alma de borboleta.
Pronta pra voar.
Pronta pra se reciclar.

Se quiser me encontrar,
me mande cartas.
A moça que cuida do jardim
olhou para o chão e suspirou.
Sorriu ao ver as mãos sujas de terra.
Joelhos dobrados ao chão,
pés descalços.
Estava um tanto quanto cansada,
ela admitia,
mas preferia não falar nada,
apesar do silêncio e do peito cheio de palavras pulsantes.
Pensou em Deus,
silenciosamente fez uma oração, depois pegou cada semente com os movimentos mais delicados que conhecia.
Sorria por dentro.
Sabia dos riscos de se cultivar um jardim.
Um espinho que não avisa...
às vezes sementes jogadas ao vento, ao tempo...
"Tudo a seu tempo",
ela pensava enquanto sentia alguns raios delicados de sol que cortavam a imensidão azul.
No centro do jardim ela cultivava uma flor bonita chamada amizade.
E logo aprendeu lidar com a natureza daquela flor multicolorida.
Amizade tem nome, tempo certo.
cheiro de infância, de proteção, de aconchego, de colo.
a moça achava aquela flor tão bonita e sabia que durante a vida, iria ganhar várias outras, de diferentes formas, tamanhos e cores. Aprendeu a cultivar o jardim nos des-acertos.
Seus dedos riscavam a terra deixando marcas que ela ainda não sabia como definir.
Silenciava que era pra ver se sossegava o coração.
Não compreendia muito bem os ciclos e ainda tem dificuldade em acertar seu tempo com o tempo que faz.
E ainda sonha...
Sonha com o presente.
Dormindo ou acordada.
O jardim não tem muros, nem cerca.
Lá, ela colocou um banquinho que decorou com as mais bonitas cores, colocou a almofada mais macia e de vez em quando ela senta e sossega.
No seu jardim o tempo é outro e ela espera por segundos, horas, meses, anos...
E quando por lá não aparece, está passeando por aí, porque é no desencontro que ela se encontra.
E suspira!
De dentro pra fora e de fora pra dentro!